GIL DAS POESIAS
e início de verão.
A carga de trabalho é reduzida sendo a rega das hortas a tarefa principal.
Os dias são longos e quentes, por vezes abrasadores e abafados, convidando a um doce ‘fare niente’, a sestas revigorantes e a uns copos de ‘pastis’ (fraquinho) e de ‘panachés’ (ainda mais fraquinho)…
As noites são frescas e impregnadas de mosquitos famintos e devoradores, mas tb de cigarras barulhentas e cantadeiras que servem de banda sonora para entardeceres de cores fabulosas e de brisas carregadas de aromas que são uma intensa mescla das fragrâncias frescas, doces e floridas das ultimas aromáticas flores primaveris como o rosmaninho, o jasmim e a madressilva e as fragrâncias mais secas, torradas e agrestes das terras ávidas de água mas sobretudo dos fenos, e dos restolhos recentemente ceifados.
Os pomares e as hortas estão repletos de frutas e legumes variados e coloridos, e que apesar dos seus sabores refinados e moldados por uma terra agreste, um clima duro, mas muita dedicação e empenho dos meus pais, são alimentos para o corpo, e a minha ávida barriga, mais sobretudo um farto alimento para a alma.
Nas vinhas, extensas linhas de um verde ainda exuberante, aqui e ali começam a surgir outros tons, ora roxos, ora amarelos, significando que o ciclo da vinha não pára e que as uvas estão com ‘pintor’, amadurecendo lentamente, aproximando-se mais uma vindima e um fechar de ciclo…"